Eu acordei atordoado numa cama de
hotel, e não me lembrava de praticamente de nada. Eu me sentei na cama e tentei
lembrar o que havia acontecido, mas não conseguia. Quando uma garota asiática
entrou no quarto eu me lembrei de praticamente tudo, as memórias vieram como
uma explosão. E eu comecei a ficar com dor de cabeça. Comecei a raciocinar, e
cheguei a conclusão de que o esforço que eu tive para manter os bonecos de
escuridão aqui no nosso mundo, foi tanto que eu não armazenei as informações
corretamente, e logo não me lembrei do que havia acontecido; mas assim que vi
Alexandra a minha mente se reorganizou e eu lembrei de tudo. Por um lado isso
foi bom, mas por outro...
Em ainda não estava conformado com
a morte de Karla. Claro que ela havia morrido por uma causa nobre, mas mesmo
assim, era difícil perder alguém da sua família. Depois de um tempo refletindo
sobre o assunto eu me vi pensando na morte do meu avô. Eu tinha apenas três
anos e eu não sabia direito sobre a morte. Minha mãe disse que eu ficava
pedindo para ela tirar meu avô do Caixão, que eu queria brincar com ele.
Suspirei. Olhei para Alexandra que
já estava me olhando perpetuamente tentando invadir meus pensamentos. Assim que
eu me mexi ela falou:
–Devon – falou muito hesitante – o
Pietro nos contou o que aconteceu com a Karla.
Depois que ela disse isso foi que
realmente a ficha caiu pra mim. Ela estava morta e eu nunca mais iria vê-la.
Nesse instante eu desabei em lágrimas. Alexandra colocou a mão no meu ombro e
começou a falar palavras de consolo. Eu chorei muito... chorei por ela ,e
também o chorei que eu não havia chorado quando meu avô morreu. Quando eu parei
estava com a cabeça deitada no colo de Alexandra e ela estava fazendo um cafuné
em mim. Eu aproveitei o momento um pouco, e depois me levantei enxugando o resto
das lágrimas que eu tinha no rosto.
–Vamos – falei ríspido.
–Para onde? – perguntou Alexandra
intrigada.
–Vamos para a CDM agora mesmo. –
falei pegando minha mochila no chão e ajustando minha roupa para que ficasse
como um fardamento escolar – Karla não morreu a toa. Pietro foi salvo e irá se
tornar um grande caçador, assim como você e o Gabriel. Vocês vão voltar conosco
para a CDM e iniciarão seu treinamento ainda hoje.
–Você tem... – ela não terminou
essa frase.
–O quê? – falei a incentivando a
continuar.
–Nós vamos com vocês – falou ela
mudando a frase completamente.
–Tudo bem então. – falei sorrindo
– Vamos lá.
Depois disso, nós fomos atrás de Pietro e os
outros. Eles estavam nos banheiros dos quartos, procurando medicamentos para
todos. Nós os achamos na ala C.
–Finalmente dorminhoco – falou
Clarck rindo – achei que você tinha entrado em coma.
–Até parece. – falei com um
sorriso no rosto – Então... nós precisamos ir, vocês já estão prontos?
–Faz tempo – falou vitória com um
meio sorriso no rosto – estávamos só pegando alguns medicamentos. E esperando
você acordar.
–E ao que parece – falou Alexandra
– as duas coisas já fora cumpridas.
Era verdade, eu já tinha acordado
e eles já estavam com bandagens em todo corpo. Inclusive ao que parecia, Clarck
havia usado mertiolate em todas as feridas. Eu tive pena dele.
Depois de algum tempo com todos
prontos nós pegamos um ônibus que parava perto do palácio do planalto. Depois
que descemos no ponto, caminhamos alguns metros e chegamos ao palácio. Os
guardas ao nos verem, foram logo preparando as lanças – por sorte eram guardas
mestiços – e abriram a fenda, na qual todos nós passamos.
Do outro lado, Douglas estava
teclando nas sua boa e velha tela. Ao nos ver, ele foi logo chamando o Sr.
Jacob para nos receber, e fez um sinal para que os “convidados” se sentassem em
alguns bancos. Em quanto o professor não chegava, nós (eu Clarck e Vitória)
explicamos brevemente os acontecimentos na nossa aventura para Douglas. Ele não
pareceu se abalar em nem um ponto, com exceção de quando falamos que Karla
havia salvado Pietro. Ele se remexeu e ficou um pouco inquieto. Depois que o
professor Jacob chegou ele pela segunda vez – pelo menos que eu vi – se
levantou da sua mesa e foi falar com o professor antes de nós. O professor olhou
para os Mestiços que trouxemos, mas eu tive a leve impressão que ele estava
focado em Pietro. No fim das contas ele disse para ele não se sentir culpado
pela morte de Karla, pois ela sabia o que estava fazendo, e aquela ladainha
toda. Eles começaram com o senhor e a senhora McJones, mas assim como eu Pietro
foi levado para elite. O senhor Jacob fez questão de treinar Pietro, mesmo ele
entrando numa matéria mais avançada.
No meio do ano mais ou menos, o
professor nos dividiu em grupos menores, para nos habituarmos mais a caçada. No
meu grupo ficaram: Eu, Clarck, Vitória, Pietro e Madison. Os demais grupos eu
não me lembro, já que a partir daquele dia começamos a receber aulas
separadamente.
...
No começo do quarto bimestre
anual, nosso grupo saiu numa missão e verdade. Douglas liberou um dos portais
controlados para a gente. A missão era matar um lobo nórdico, que os caçadores
soltaram numa área próxima ao Alasca. Nossa equipe saiu aproximadamente as
04h52min da madrugada de 27 de novembro de 2010. Cristian quem estava na mesa
de recepção, e ele nos mandou direto pra divisa.
Assim que chegamos ao outro lado
do portal, sentimos o frio, estava nevando muito,e Clarck – que entre nós cinco
era o único que já havia “escolhido o sangue” – utilizou de uma das técnicas
que havia aprendido com o instrutor Bárbaro, – ele escolheu o sangue Nórdico –
a de localização. Ele fez umas coisas na neve, e soprou um punhado de areia –
que por alguma razão ele carregava no bolso – que começou a indicar, por assim
dizer, o caminho. Nós corremos por um bom pedaço de terra, até que ouvimos um uivo.
Clarck estremeceu, sacou uma arma, – que com a neve caindo eu não consegui
identificar – e fez um sinal para que fizéssemos o mesmo. Eu saquei uma lança;
Pietro sacou um arco e flechas; Madison sacou duas adagas; e Vitória, sacou
três cordas com peso que ela havia feito – eu acho que serviam para amarrar as
pernas do oponente – e se preparou para lançar uma.
Nós continuamos o percurso
furtivamente, com exceção de Pietro, que subiu numa árvore e se preparou para
atirar. Depois de certo tempo andando, nós vimos os olhos vermelhos do lobo nos
encarando, rapidamente ele saiu correndo e uivando. Nós fomos atrás dele, e
Pietro, ficou atirando flechas no borrão que era o lobo. Depois de corrermos bastante,
já o tínhamos perdido de vista, mas começamos a notar um rastro de sangue.
Pietro havia acertado uma de suas flechas no lobo. Nós seguimos o rastro
cautelosamente, até que começamos a ouvir passos. Escondemo-nos como pudemos e
nos preparamos para a emboscada. Eu havia me enterrado parcialmente na neve.
Assim que vi o vulto comecei a dar o golpe da lança, mas este foi interrompido
por Pietro, que havia usado seu arco para se defender.
–Vai com calma cara – falou ele
calmamente – eu não sou um lobo.
–Desculpa. – falei olhando para a
direção em que o lobo foi – Mas então, você o acertou?
–Sim – falou com um sorriso no
rosto – eu o acertei na perna inferior traseira. É assim que chama?
–Deve ser. – falei sorrindo – Mas
então, devemos seguir o rastro?
–Claro – falou Clarck irrompendo
no diálogo – o sangue dele está escorrendo, e ele já entrou no processo de
banimento. Sabe aquele lance, que o monstro vai pro “inferno” da cultura dele e
tal? Então, ele está indo para o reino de não
sei quem lá. Sabe aquele “carinha” que guarda o inferno nórdico? Pronto, é
esse mesmo que você tá pensando. O lobo tá indo pra lá, mas como ele foi
atingido na perna o processo vai demorar, e consequentemente vai manter um
passagem do nosso mundo com esse “inferno nórdico”. Ele pode até chamar
reforços. Por isso nós precisamos matar aquele “cão”, e logo.
–Nesse caso – falou Madison –
precisamos ir mais rápido. Eu não sei explicar, mas eu estou com uma sensação
estranha... a sei lá.
Nesse instante, quatro uivos
estridentes e o som de um berrante soaram ao longe. Todos nós nos entreolhamos
preocupados.
...
–Não deve ter sido nada – disse
Vitória quebrando o longo silêncio – digo, não deu tempo de ele chamar
reforços. Deu?
–Duvido. – falou Clarck tentando
convencer a si mesmo que a Vitória – Mas por precaução, acho melhor rezar.
–Eu não vou rezar a Odin cara, até
parece. – falei um pouco irado.
–A velho, você quem sabe – falou
Clarck – eu sei que eu vou rezar.
Ele começou a fazer aqueles
rituais que ele aprendeu com o treinamento especializado, e começou a fazer um
circulo de proteção. Madison tentava seguir seus passos, e Pietro preparava seu
arco. Ele nunca acreditou nessas coisas de religiões, pagãs ou não. Ele
escolheu não acreditar para não culpar nem Deus nem os deuses. Ele acreditava
na existência deles, mas não admitia. Vitória por sua vez olhava na direção na
qual o lobo havia ido. Ela tinha olhos de águia, e conseguia enxergar muito bem
mesmo, mas eu duvidei que ela visse algo com aquela nevasca. Eu mesmo fiquei
bolando estratégias. Depois de um tempo, a neve parou de cair. Eu olhei para
cima e notei que na verdade ela estava alterando o curso quando chegava
próximo. Eu logo notei que se tratava do tal circulo de proteção. Eu até achei
bacana.
Assim que ele terminou o circulo –
que na verdade era uma esfera – estava emitindo um brilho novo. Todos nós
olhamos perplexos para o trabalho de Clarck. Ele se levantou, parecia exausto,
estava até um pouco pálido. Ele olhou ara nós e disse:
–Está tudo condenado – falou
trêmulo – eles já estão se preparando.
Depois disso ele tentou andar, mas
assim que deu um passo tropeçou e caiu no chão desmaiado.
–Ele deve ter delirado... – falei
cético – ele provavelmente deve ter gastado muita energia e perdeu a noção do
bom senso.
–Talvez – disse Madison pálida –
mas nós temos problemas maiores para no preocupar agora. Olhem lá.
Ela apontou para um pequeno monte
e quando nós olhamos, notamos a presença e um lobo muito maior, e um elfo
montado nele. O elfo fez soar seu berrante e uma matilha de lobos surgiu atrás
dele. Nós pegamos nossas armas o mais rápido possível, e assim que eu estava
empunhando minha lança, Pietro atirou uma saraiva de flechas no inimigo. Alguns
monstros foram atingidos em cheio e desintegraram na mesma hora, outros foram
feridos e se deitaram no campo de batalha. Por sua vez o Elfo atirou várias
flechas, que por sorte o circulo de proteção conseguiu repelir. Alguns lobos
avançaram, e eu assim que os vi chegar matei com golpes de lança. Nós passamos
muito tempo lutando, tanto que o sol já começava a raiar. Durante toda essa
luta, o Elfo só foi ferido quando o Sol nasceu por completo. Depois disso vimos
sua real forma. Era negro e tinha marcas no corpo. Assim que a pele dele entrou
em contato com a Luz ele bateu em retirada. O circulo de proteção se desfez na
luz do dia e nós caímos exaustos no chão.
Por volta de meio dia eu acordei.
Eu havia me recuperado melhor pois –assim como penso – tive um treinamento de
regeneração de células, nada muito rápido, apenas o suficiente para fazer seu
sangue parar de jorrar e as feridas de batalhas cicatrizarem logo.
Eu levantei, e olhei em volta.
Estava tudo deserto. Depois de um tempo tentando me livrar da neve que havia
acumulado no meu cabelo e nas minhas sobrancelhas, Madison acordou. Ela gostava
de mim, e eu sabia disso – o que não ajudava em nada – mas mesmo assim ela
ainda não havia se declarado. Nós éramos mais maduros do que qualquer casal de
18 anos, então, o fato de sermos muito novos não a atrapalharia. Eu achei que
ela se declararia naquele instante; pois ela havia se aproximado de mim e
colocado sua mão em meu ombro. Eu até que gostei. Ela não era uma garota que se
chamaria de feia, mas como líder da missão eu precisava me concentrar. Ela já
ia falar algo, mas ao longe um berrante soou. Não era um berrante como o que eu
havia ouvido ontem – pelo menos isso. Madison, logo correu para sua bolsa, que
ela havia deixado no chão, e pegou uma adaga, estrategicamente ela a escondeu
na manga da blusa e fez um sinal para irmos investigar. Eu assenti e peguei
minha “espada que não fere” – era assim que apelidei a espada que James me dera
– e fui em direção à floresta. Depois de seguirmos por certo tempo ouvimos
novamente o berrante. Começamos a correr, até que em uma clareira encontramos
uma fileira de cabanas. Do lado de fora alguns homens estavam preparando armas
ou afiando machados. Depois de um tempo observando, notei que eles estavam
matando animais e tirando a pele deles. Eu não daria muita bola pra isso, sendo
que não tinha nada haver com a nossa verdadeira missão, se não fosse o tato de
ouvir alguns uivos baixos vindos de um porão. Eu comecei a imaginar se eles
haviam capturado algum dos lobos feridos. Eu já estava disposto a entrar quando
Madison sussurrou no meu ouvido:
–Eu sei que não é o momento ideal,
mas tem um espírito da natureza em cima de um arvore e vários índios
posicionados ao redor das cabanas, inclusive atrás de nós.
–Obrigado por avisar – falei com
um pouco de ironia na voz e me virei. Atrás de mim estavam alguns índios
armados nos olhando perplexamente. De trás deles apareceu a figura de um grande
chapéu, que eu logo reconheci como o chapéu do cacique. Ele veio até nós e
disse:
–De que lado vocês estão?
–Bem – falei com o cacique – não
sei se sabe quem somos, mas nós somos do bem. Fazemos partes de uma organização
que caça monstros.
–Então vocês são os responsáveis
pelos lobos de ontem?
–Mais ou menos. Podemos conversar
num lugar mais reservado?
–Sem problema, mas antes, deixe-me
começar a guerra.
O cacique falou uma palavra e logo
todos os índios avançaram. Magicamente as armas dos caçadores de animais,
estavam voando pelos ares. Depois de 5 minutos de ataque o cacique e mais dois
índios foram comigo e Madison para a toca deles. Chegando lá o cacique pediu
para que contássemos a história de ontem, eu fui contando em quanto Madison de
vez em quando acrescentava algo que eu esquecia. Quando terminamos ele disse:
–Acredito em você tanto quanto
acredito no grande mago Altair.
–Obrigado – falei um pouco por
fora – eu acho.
–Oh sim, isso quer dizer que eu
acredito em vocês, mas agora acho que também merecem explicações sobre nós e
toda a floresta. Espero que não estejam com pressa, pois vai demorar um pouco.